descobre o topo da vista desarmada. ansiosa chegada, repetida partida. descobre o topo da partida e da chegada. grossa caminhada, profunda perdição.
terça-feira, novembro 28, 2006
sexta-feira, novembro 03, 2006
ausência
onde estás tu
xô, VAI-TE AUSENCIA!
onde estás tu?
não desapareces ausência
tu não morres ausência
sempre foi impossível
mas agora vejo que já não
estás dissolvido na água gelada
que cai em lágrimas de ausência
sobre a cidade anónima
molhas-nos ausência
mudas-nos a cor
molhas-me por fora
e enregelas-me por dentro
xô, VAI-TE AUSENCIA!
onde estás tu?
não desapareces ausência
tu não morres ausência
sempre foi impossível
mas agora vejo que já não
estás dissolvido na água gelada
que cai em lágrimas de ausência
sobre a cidade anónima
molhas-nos ausência
mudas-nos a cor
molhas-me por fora
e enregelas-me por dentro
sexta-feira, outubro 20, 2006
som
quinta-feira, outubro 12, 2006
domingo, outubro 08, 2006
Não existe maior confusão
Não existe maior confusão em mim do que as palavras dos pensamentos que se amontoam na espera pela ordem de entrada e as frases e os nacos de frases que sobressaem na sua decomposição rápida e luminescente. Por vezes nem chegam a formar-se palavras. Por vezes são as ideias ou pré-ideias, ideias de ideias, premonições de ideias, adivinhações, sextos sentidos, impressões que se sentem, cheiram, não se vêm ou tocam mas deixam uma marca suficiente para abalar qualquer estrutura que esteja em construção, como uma brisa de tempestade que derruba a construção de um farol.
sexta-feira, outubro 06, 2006
hoje vi-te
hoje vi-te ao longe
entre os ombros, cabeças e pescoços
ondulantes da multidão
sorrias de perfil
vinhas e desaparecias
na multidão
na ondulação
aparecias e ias
na memória errante
histérica incerta
eras tu sim
não eras
era tal e qual sim
não era
de certeza mesmo que sim sim
não
não recordo, não relembro, não ressurge
nariz, lábios, olhos, o sorriso
na névoa sebastianista
entre os ombros, cabeças e pescoços
ondulantes da multidão
sorrias de perfil
vinhas e desaparecias
na multidão
na ondulação
aparecias e ias
na memória errante
histérica incerta
eras tu sim
não eras
era tal e qual sim
não era
de certeza mesmo que sim sim
não
não recordo, não relembro, não ressurge
nariz, lábios, olhos, o sorriso
na névoa sebastianista
domingo, setembro 24, 2006
espiral do desespero triste sem fundamento
Quero chorar, não consigo.
As lágrimas cristalizam nos olhos
Afiadas pedras de sal
arrastam-se lentamente na fronteira de mim
Gotejam escorrem descem até ao peito
onde acumulam
atritam
aziam
irritam
Onde renascem
em vapores de cebola infértil
que cristalizam, precipitam
Pedras de sal
peneiradas no olhar pelo olhar
As lágrimas cristalizam nos olhos
Afiadas pedras de sal
arrastam-se lentamente na fronteira de mim
Gotejam escorrem descem até ao peito
onde acumulam
atritam
aziam
irritam
Onde renascem
em vapores de cebola infértil
que cristalizam, precipitam
Pedras de sal
peneiradas no olhar pelo olhar
quinta-feira, setembro 14, 2006
domingo, setembro 03, 2006
a lembrança do sal
Reparo nos teus olhos cansados
Uma faísca sobressai no olhar habitual
Luz brilhante de um passado recente
Uma lágrima feliz
Uma lágrima presa
Reparo, já com o olhar pesado e cansado
No teu corpo moreno ensardado
Vestígios de um passado recente
Um bronze bonito
Um bronze com termo
Reparo no meu corpo cansado
Na barba comichosa
Na roupa mal cheirosa
No cabelo desgrenhado
Nos olhos areados
Reparo, e solta-se uma lágrima
De uma fonte improvável
Mas constante
Uma lágrima livre
Dos corpos cansados, sujos ou limpos
Uma lágrima que não interessa
Porque não há ninguém
Ninguém existe neste momento
Apenas o brilho
O teu brilho
A transparência
A liquidez eterna que tudo une
E o sal
O tão intenso e distinto sal
Uma faísca sobressai no olhar habitual
Luz brilhante de um passado recente
Uma lágrima feliz
Uma lágrima presa
Reparo, já com o olhar pesado e cansado
No teu corpo moreno ensardado
Vestígios de um passado recente
Um bronze bonito
Um bronze com termo
Reparo no meu corpo cansado
Na barba comichosa
Na roupa mal cheirosa
No cabelo desgrenhado
Nos olhos areados
Reparo, e solta-se uma lágrima
De uma fonte improvável
Mas constante
Uma lágrima livre
Dos corpos cansados, sujos ou limpos
Uma lágrima que não interessa
Porque não há ninguém
Ninguém existe neste momento
Apenas o brilho
O teu brilho
A transparência
A liquidez eterna que tudo une
E o sal
O tão intenso e distinto sal
terça-feira, agosto 08, 2006
sexta-feira, agosto 04, 2006
horizonte
Haverá algum horizonte onde descansem melhor os olhos do que no alcançado com algum esforço e superação?
Não é uma conquista, pois não se trata de uma batalha com aquela linha imaginária.
O que torna esta linha única é a projecção que se faz da história que se traz às costas no enorme espaço vazio e etéreo que se estende ao infinito, dando-lhe um carácter épico e amplificando todas as emoções e sensações por que se tenha passado.
Todo o enorme espaço vazio é subitamente preenchido pelo que se expande de nós.
segunda-feira, julho 17, 2006
takk por há pouco
viðrar vel til loftárása
ég læt mig líða áfram
í gegnum hausinn
hugsa hálfa leið
afturábaksé sjálfan mig syngja fagnaðarerindið
sem við sömdum saman
við áttum okkur draum
áttum allt
við riðum heimsendi
við riðum leitandi
klifruðum skýjakljúfa
sem síðar sprungu upp
friðurinn úti
ég lek jafnvægi
dett niður
alger þögn
ekkert svar
en það besta sem guð hefur skapað
er nýr dagur
Takk..por há pouco. Apesar das entradas em falso, das cordas partidas, da minha música-cruz-que-carrego-e-hei-de-carregar-sem-saber-bem-porquê (viðrar vel til loftárása) ter começado de forma inesperadamente óbvia, do vídeo que não correu, dos pássaros que não voaram, takk..
quarta-feira, julho 12, 2006
afago
Brilha uma luz de transparência âmbar
difusa e imprecisa
pela distância, pelo percurso, pela história
suspende-se uma imagem, um contorno
Inspiram-se fundo fraquezas
reforça-se
Equilibra-se em fino cristal
caminha às cegas
onde ninguém acredita ver mal
Hesita um passo
Antecede-se um afago
difusa e imprecisa
pela distância, pelo percurso, pela história
suspende-se uma imagem, um contorno
Inspiram-se fundo fraquezas
reforça-se
Equilibra-se em fino cristal
caminha às cegas
onde ninguém acredita ver mal
Hesita um passo
Antecede-se um afago
sexta-feira, julho 07, 2006
A vida secreta das palavras
Nota prévia:
Este cometário é sobre o filme "A vida secreta das palavras". Lê-lo pode ser desagradável para quem ainda não o viu e pretenda ver...Que cada um prossiga avisado e a seu próprio risco.
“Receio que não hoje, não amanhã, mas um dia, comece a chorar e não consiga parar.
Receio que não me consiga conter, encha o quarto até acima de lágrimas e me afogue, afundando-te comigo”
Conseguirás imaginar tal dor - dor mesmo, aguda, lancinante, prolongada, profunda e comprida - que por sobrevivida por um limiar tão pequeno é causa de vergonha. E conseguirás imaginar que a vergonha de ter sobrevivido seja maior que a lembrança da dor.
Como viver com a dor da memória e a dor da vergonha de não ter sofrido até ao fim como os puros fizeram, os que realmente sofreram na pele e na alma as amarguras da dor e do amor.
Haverá comparação? Será legitimo comparar?
Este filme é dedicado ao trabalho de acompanhamento de vítimas de tortura.
Encontrei um paralelismo nas duas personagens principais. Mas enquanto uma sofre no rescaldo da sobrevivência a actos bárbaros de tortura, a outra sofre porque por amor, por adultério, desencadeou uma tragédia que não conseguiu evitar e da qual apenas saiu ferido, queimado e temporariamente cego.
Pergunto-me se o romantismo humano levado ao seu extremo, à tragédia, é comparável com a tragédia humana, a guerra, a tortura.
O que sente nas vísceras o homem que acredita ser, e é, o causador da auto-imolação do seu melhor amigo? Uma dor cáustica, ininterrupta e inebriante. Sente lágrimas ácidas escorrerem para dentro, secas, queimando qualquer resquício de humanidade que ainda exista.
O que sente a mulher violada, esfaqueada e torturada no limiar da sobrevivência, despida da condição humana, despida de sentidos – de audição, de sabor, de tacto – renegada e destinada ao esquecimento global, ao esquecimento de si própria, à morte em vida de si própria.
Em Portugal não temos guerra. E se tivéssemos? Como seria? Esta jovem também não acreditava, no topo dos seus 20 anos, que as noticias circulantes fossem verdadeiras. Afinal estas coisas apenas acontecem aos outros. Mas foi bem perto de casa, no retorno a casa que o impossível aconteceu.
Não há impossíveis. O Homem é um ser com tanto de belo como de horrível. Romântico e hediondo. Violador e arrependido (“perdoa-me, perdoa-me” murmuravam eles ao seu ouvido).
O monstruoso é que Homens somos todos nós, homens e mulheres, românticos hediondos.
Este cometário é sobre o filme "A vida secreta das palavras". Lê-lo pode ser desagradável para quem ainda não o viu e pretenda ver...Que cada um prossiga avisado e a seu próprio risco.
“Receio que não hoje, não amanhã, mas um dia, comece a chorar e não consiga parar.
Receio que não me consiga conter, encha o quarto até acima de lágrimas e me afogue, afundando-te comigo”
Conseguirás imaginar tal dor - dor mesmo, aguda, lancinante, prolongada, profunda e comprida - que por sobrevivida por um limiar tão pequeno é causa de vergonha. E conseguirás imaginar que a vergonha de ter sobrevivido seja maior que a lembrança da dor.
Como viver com a dor da memória e a dor da vergonha de não ter sofrido até ao fim como os puros fizeram, os que realmente sofreram na pele e na alma as amarguras da dor e do amor.
Haverá comparação? Será legitimo comparar?
Este filme é dedicado ao trabalho de acompanhamento de vítimas de tortura.
Encontrei um paralelismo nas duas personagens principais. Mas enquanto uma sofre no rescaldo da sobrevivência a actos bárbaros de tortura, a outra sofre porque por amor, por adultério, desencadeou uma tragédia que não conseguiu evitar e da qual apenas saiu ferido, queimado e temporariamente cego.
Pergunto-me se o romantismo humano levado ao seu extremo, à tragédia, é comparável com a tragédia humana, a guerra, a tortura.
O que sente nas vísceras o homem que acredita ser, e é, o causador da auto-imolação do seu melhor amigo? Uma dor cáustica, ininterrupta e inebriante. Sente lágrimas ácidas escorrerem para dentro, secas, queimando qualquer resquício de humanidade que ainda exista.
O que sente a mulher violada, esfaqueada e torturada no limiar da sobrevivência, despida da condição humana, despida de sentidos – de audição, de sabor, de tacto – renegada e destinada ao esquecimento global, ao esquecimento de si própria, à morte em vida de si própria.
Em Portugal não temos guerra. E se tivéssemos? Como seria? Esta jovem também não acreditava, no topo dos seus 20 anos, que as noticias circulantes fossem verdadeiras. Afinal estas coisas apenas acontecem aos outros. Mas foi bem perto de casa, no retorno a casa que o impossível aconteceu.
Não há impossíveis. O Homem é um ser com tanto de belo como de horrível. Romântico e hediondo. Violador e arrependido (“perdoa-me, perdoa-me” murmuravam eles ao seu ouvido).
O monstruoso é que Homens somos todos nós, homens e mulheres, românticos hediondos.
sexta-feira, junho 30, 2006
a 37ª - homenagem aos rótulos
Às tantas
incendiou-se o desespero da duvida da incerteza
À 37ª
apagou-se a azia.
Homenageio assim o inventor dos rótulos, que esteve muito bem na sua descoberta. Graças a ele podemos hoje em dia distinguir o fixador do revelador e evitar, entre outras coisas, apagar sem querer as fotografias que tiramos de propósito.
Um grande bem-haja!
incendiou-se o desespero da duvida da incerteza
À 37ª
apagou-se a azia.
Homenageio assim o inventor dos rótulos, que esteve muito bem na sua descoberta. Graças a ele podemos hoje em dia distinguir o fixador do revelador e evitar, entre outras coisas, apagar sem querer as fotografias que tiramos de propósito.
Um grande bem-haja!
quinta-feira, junho 15, 2006
terça-feira, junho 13, 2006
terça-feira, junho 06, 2006
quarta-feira, maio 31, 2006
terça-feira, maio 09, 2006
sábado, maio 06, 2006
Territórios imaginados – discorrência inacabada
Território, substantivo masculino, grande extensão de terra, área de uma jurisdição.
Imaginar, verbo transitivo, representar ou conceber na imaginação, idear, conjecturar, supor.
Um território é um espaço, à primeira vista delimitado por uma fronteira, cujos contornos obedecem a alguma lógica, que constitui a jurisdição. Sendo também possível imaginar definições territoriais sem as delimitações habitualmente utilizadas (por exemplo, o território planeta Plutão não está, ainda, loteado nem dividido administrativamente), acaba por ser fácil, por aumento de escala do objecto delimitador, definir novas fronteiras (o planeta é delimitado pela sua atmosfera).
A fronteira não é portanto uma característica necessária à existência de um território.
Por outro lado, na dimensão, o grande e o pequeno são medidas qualitativas e relativas, dependentes da comparação com elementos conhecidos, que por sua vez estão catalogados por comparação com outros elementos conhecidos.
Torna-se difícil encontrar uma definição ou ideia do significado de um território.
Sobressai apenas a imagem de um espaço onde alguma característica comum determina a sua coerência e a sua união.
A imaginação, individual ou colectiva, como catalisadora do processo criativo, determina a quantidade e a qualidade dos territórios concebidos. Desde o espaço público, constituído, por exemplo, pelas características comuns da sua utilização ou arquitectura, ao espaço privado, individual e unívoco, território das convicções.
Imaginar, verbo transitivo, representar ou conceber na imaginação, idear, conjecturar, supor.
Um território é um espaço, à primeira vista delimitado por uma fronteira, cujos contornos obedecem a alguma lógica, que constitui a jurisdição. Sendo também possível imaginar definições territoriais sem as delimitações habitualmente utilizadas (por exemplo, o território planeta Plutão não está, ainda, loteado nem dividido administrativamente), acaba por ser fácil, por aumento de escala do objecto delimitador, definir novas fronteiras (o planeta é delimitado pela sua atmosfera).
A fronteira não é portanto uma característica necessária à existência de um território.
Por outro lado, na dimensão, o grande e o pequeno são medidas qualitativas e relativas, dependentes da comparação com elementos conhecidos, que por sua vez estão catalogados por comparação com outros elementos conhecidos.
Torna-se difícil encontrar uma definição ou ideia do significado de um território.
Sobressai apenas a imagem de um espaço onde alguma característica comum determina a sua coerência e a sua união.
A imaginação, individual ou colectiva, como catalisadora do processo criativo, determina a quantidade e a qualidade dos territórios concebidos. Desde o espaço público, constituído, por exemplo, pelas características comuns da sua utilização ou arquitectura, ao espaço privado, individual e unívoco, território das convicções.
sexta-feira, abril 21, 2006
O repouso
Ainda acordado
sonho com a tua proximidade
com a tua respiração e assim me fico
a saborear cada sopro do teu repouso
sonho com a tua proximidade
com a tua respiração e assim me fico
a saborear cada sopro do teu repouso
domingo, abril 16, 2006
O instante sonhado
Pressinto o presente
Ou ignoro-o.
O sobressalto ocorre
No preciso momento inesperado
De solidão, ou de confusão.
Numa breve rotação
Na conclusão de um foco.
Momento instante
Instante.
Instante de quê
Instante de dor
Instante de quês
Instante de sins, de nãos
Instante de certeza
De certeza instante
Apenas
E tanto por vir
No instante adiado
Nos presentes sonhados.
Ou ignoro-o.
O sobressalto ocorre
No preciso momento inesperado
De solidão, ou de confusão.
Numa breve rotação
Na conclusão de um foco.
Momento instante
Instante.
Instante de quê
Instante de dor
Instante de quês
Instante de sins, de nãos
Instante de certeza
De certeza instante
Apenas
E tanto por vir
No instante adiado
Nos presentes sonhados.
quarta-feira, abril 05, 2006
terça-feira, abril 04, 2006
O espaço publico
"A não existência de um espaço anónimo de devir das ideias e das obras retira, além do poder de criação, o dispositivo necessário (a mediação) que dessubjectiva o discurso e impede o choque dos «sujeitos»."
José Gil in Portugal, hoje-O medo de existir
Pois bem. O espaço público que não se pretende, assim tão bem sumariado, sufoca-me constantemente na sua omnipresença predadora.
São as relações historicamente enquinadas, encostadas na berma do trilho que percorriam. São os frágeis elos de aço da economia empresarial gerida pelo maniqueísmo hierárquico socio-apaziguado no sabor de um café.
Não existe consistência no espaço que constitui o meio de relacionamento interpessoal. Não existe colectivo no sentido da soma de individualidades em conjunto com a goma que as una e lhes dê um significado ou uma interpretação maior. Essa interpretação não existe por si, nem poderia existir por si, isolada, sem que alguém a corporizasse. Pois neste cenário falta também este alguém ou essa entidade.
São as expectativas galopantes a desbravar caminho, apesar de o sábio as desaconselhar a quem procura a liberdade. Mas cada vez mais creio que se referia à liberdade pessoal, individualizada, ao fruto de um caminho iniciado em sociedade.
Serei eu mais eu quando me sentir a mim em mim? Quando for livre, não no sentido de poder dizer e pensar o que me apetecer, mas no sentido de não ter nenhuma barreira maquiavélica a orientar o meu raciocínio, a personalidade, a acção?
Sim. Esse é um objectivo que não deveria ser enunciado, mas inato, invariável. E apenas uma comunidade pode propiciar tais condições. Uma sociedade de libertos comunicantes, uma comunidade caldeirão.
Pensem, e atirem-me pedras!
José Gil in Portugal, hoje-O medo de existir
Pois bem. O espaço público que não se pretende, assim tão bem sumariado, sufoca-me constantemente na sua omnipresença predadora.
São as relações historicamente enquinadas, encostadas na berma do trilho que percorriam. São os frágeis elos de aço da economia empresarial gerida pelo maniqueísmo hierárquico socio-apaziguado no sabor de um café.
Não existe consistência no espaço que constitui o meio de relacionamento interpessoal. Não existe colectivo no sentido da soma de individualidades em conjunto com a goma que as una e lhes dê um significado ou uma interpretação maior. Essa interpretação não existe por si, nem poderia existir por si, isolada, sem que alguém a corporizasse. Pois neste cenário falta também este alguém ou essa entidade.
São as expectativas galopantes a desbravar caminho, apesar de o sábio as desaconselhar a quem procura a liberdade. Mas cada vez mais creio que se referia à liberdade pessoal, individualizada, ao fruto de um caminho iniciado em sociedade.
Serei eu mais eu quando me sentir a mim em mim? Quando for livre, não no sentido de poder dizer e pensar o que me apetecer, mas no sentido de não ter nenhuma barreira maquiavélica a orientar o meu raciocínio, a personalidade, a acção?
Sim. Esse é um objectivo que não deveria ser enunciado, mas inato, invariável. E apenas uma comunidade pode propiciar tais condições. Uma sociedade de libertos comunicantes, uma comunidade caldeirão.
Pensem, e atirem-me pedras!
domingo, março 26, 2006
Repouso
Finalmente o descanso, e a certeza da vitória do peso das pálpebras sobre o encarrilamento do raciocínio. Já o mundo está desfocado de sono e as palavras colam-se numa só. Acumulam o seu peso com o do corpo encaixado no molde formado pela sua existência em repouso.
segunda-feira, março 20, 2006
A semente dos sonhos
Preparas o descanso, respiras fundo e antecipas o conforto da noite.
E no silencio, na imobilidade do ar, um breve sussurro imperceptivel aloja-se na semente dos sonhos e aguarda pacientemente que adormeças.
Só então te invade, como o faz um perfume.
E no silencio, na imobilidade do ar, um breve sussurro imperceptivel aloja-se na semente dos sonhos e aguarda pacientemente que adormeças.
Só então te invade, como o faz um perfume.
Despertar
Estava afundado, naquela profundidade que os raios de sol ainda conseguem conquistar, há custa da sua dispersão, que tem tanto de aleatória como de enigmática como de premonitória.
E quando emergi, para respirar o sal da brisa marinha, fui acarinhado por uma gaivota que em silencio me reconheceu, em silencio me protegeu, em silencio me revelou e desvendou, com um breve olhar de soslaio e um morno afago de asa.
“…e então tu olhaste/ depois sorriste/ abriste a janela e voaste..”
E quando emergi, para respirar o sal da brisa marinha, fui acarinhado por uma gaivota que em silencio me reconheceu, em silencio me protegeu, em silencio me revelou e desvendou, com um breve olhar de soslaio e um morno afago de asa.
“…e então tu olhaste/ depois sorriste/ abriste a janela e voaste..”
quarta-feira, março 08, 2006
Amanhecer
Descubro a janela do seu véu nocturnal.
Semi-cobertos pelo trilho do sono, os olhos percorrem os telhados irregulares, os horizontes assimétricos.
Desvendo o ar do Porto da sua janela, fronteira finalmente quebrada.
O fino ar frio percorre ansioso, da cabeça aos pés, cada pedaço do corpo. Enche o quarto e afoga o ar tépido do singular calor humano.
Desperta os sentidos e contagia a mente...
Semi-cobertos pelo trilho do sono, os olhos percorrem os telhados irregulares, os horizontes assimétricos.
Desvendo o ar do Porto da sua janela, fronteira finalmente quebrada.
O fino ar frio percorre ansioso, da cabeça aos pés, cada pedaço do corpo. Enche o quarto e afoga o ar tépido do singular calor humano.
Desperta os sentidos e contagia a mente...
quinta-feira, fevereiro 23, 2006
Ninho
No calor do único ninho físico percorro a segurança dos ninhos emocionais. As suas levezas flutuam em esferas, comunicantes mas protectoras do exterior agressor, opressor. No ninho real recordo a esperança na continuidade da flutuação de cada bolha de segurança, de salvação.
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