quinta-feira, dezembro 27, 2007

Pólis

Depois das obras veio uma rotunda nova, grande e com semáforos. Os Homens gostaram tanto da rotunda que passavam horas à sua volta, de carro, camuflados pelo trânsito.

domingo, dezembro 09, 2007

terça-feira, novembro 20, 2007

Não encontrei as palavras...














E também a pontuação do sobe-e-desce na transparência erótica-voyeur da celulose.

segunda-feira, novembro 19, 2007

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A realidade derrete-se....finalmente

“Toda a amargura retardada da minha vida despe, aos meus olhos sem sensação, o traje da alegria natural de que usa nos acasos prolongados de todos os dias.”
Bernando Soares
Ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa

quinta-feira, novembro 15, 2007

Tremor

Por dentro um tremor
ribomba
enjoa, angustia
enregela e paralisa
tão próximo do vómito.
Por dentro um tremor
ressonância que atropela em fuga
e ecoa no vazio oco
nem silêncio nem bulício
tocam a implosão que mastiga
no vácuo que se cria
na poeira que assenta que seca
o olhar entupido
rasteiro, tropeçante
a palma da mão fria
fechada, suada, medrosa
a angústia céptica egocêntrica de um monte desabituado
desabitado pelo calor.

domingo, novembro 04, 2007

segunda-feira, outubro 15, 2007

domingo, setembro 16, 2007

A luz afasta-se e deixa-te só de olhos abertos no escuro onde te reencontras suspenso a meio caminho de flutuar ou de afundar.

quarta-feira, setembro 12, 2007

Tanto um como outro

Lutas
Contigo
Pela sobrevivência
Pela aniquilação
Por onde caminhas
A direcção que tomas
Se correr se dançar
Por isso danças e corres
Contrarias-te
Anuis-te
Tanto um como outro
Como outro
Como outro
Como outro
Como outro
Como outro

quarta-feira, agosto 22, 2007

terça-feira, agosto 14, 2007

Amo tudo, mas não me incluo

“Nessa época um dos meus sonhos (o meu arsenal de sonhos era infinito) […]”
António Lobo Antunes

Conveniente, fútil arisco, na verdade dócil, um a um, desenlaço cada sonho profundo, pré-imagens do ser, que evaporam, para não mais condensar. Amo tudo, mas não me incluo.

quinta-feira, agosto 09, 2007

quarta-feira, agosto 01, 2007

Afasto-me de mim e de onde estou
E receio rever o que vejo
Reviver o que vivo
O passado e ocorrido
Treme ainda gelado
Na memória presente

Não tem saudades de mim
Só gosta de mim
Não gosta de mim

quarta-feira, abril 11, 2007

De elevador

M. saiu do café onde passara toda a manhã a trabalhar e também a servir cafés, a tudo quanto é gente e também a tudo quanto não é gente. Todos, sem excepção, tiveram o cuidade de no fim pagar a sua conta. Desta vez ninguém fugiu e isso deixou a manhã com aquele travo de monotonia que tende a acumular-se nos cantos das casas, de cor esverdeada e que se atribui erradamente à humidade.
Desceu o degrau da porta do café, que normalmente dá para a rua, mas que agora antecede a porta do elevador de um edifício, presumivelmente do edifício do próprio café. M. não tem outra hipótese senão chamar o elevador. A luz do botão acende-se, previsível. Alguns rangidos e alguns segundos depois ouve o plim que antecede a abertura das portas. Entra no elevador sem alternativa - a porta de onde antes saira está fechada e opaca - e depara com 3 paredes de espelhos. Só existe um botão que M. carrega e que com culpa de algum nervosismo envia para interior (ou para o exterior) do elevador. Ainda assim o cubículo começa a mover-se. Sobe, lenta e constantemente. A viagem prossegue, predefinida e rodeada de um infinito absurdo. Quando finalmente ocorre a M. olhar para cima verifica que o elevador não tem tecto e consegue ver o fim da viagem que lentamente se aproxima. M. deseja que o elevador pare antes de chegar ao tecto atravessado pelos cabos que puxam lentamente o elevador sem tejadilho. Mas não há intenções de abrandamento do ritmo lento. O tecto está já à altura do peito e o chão do elevador continua a subir enquanto as paredes absurdas se dissolvem no tecto áspero. M. senta-se no chão e sem desespero consegue ainda sentir um morno aconchego do cheiro a mofo do canto esverdeado.
O chão esvoaça e M. reencontra-se agora sentado no degrau que dá para a rua a partir da porta do café. Um carro passa e cospe-lhe uma poça de água.

sábado, abril 07, 2007

"A realidade"

"O senhor Henri disse:
... é verdade que se um homem misturar absinto com a realidade fica com uma realidade melhor.
... mas é certo que se um homem misturar absinto com a realidade fica com um absinto pior.
... muito cedo tomei as opções essenciais que há a tomar na vida - disse o senhor Henri.
... nunca misturei o absinto com a realidade para não piorar a qualidade do absinto."
Gonçalo M. Tavares em O Senhor Henri













sexta-feira, abril 06, 2007

sábado, março 17, 2007

Hoje deitei-me ao lado da minha solidão

Hoje deitei-me ao lado da minha solidão.
O seu corpo perfeito, linha a linha,
derramava-se no meu, e eu sentia
nele o pulsar do próprio coração.

Moreno, era a forma das pedras e das luas.
Dentro de mim alguma coisa ardia:
a brancura das palavras maduras
ou o medo de perder quem me perdia.

Hoje deitei-me ao lado da minha solidão
e longamente bebi os horizontes.
E longamente fiquei até sentir
o meu sangue jorrar nas próprias fontes.
Eugénio de Andrade

terça-feira, março 13, 2007




"A uniformidade estatística não é de modo algum um ideal científico inócuo, e sim o ideal político, agora já não secreto, de uma sociedade que, inteiramente submersa na rotina do quotidiano, aceita pacificamente a concepção científica inerente à sua própria existência."
Hannah Arendt, A Condição Humana, pp58

quarta-feira, março 07, 2007

Apenas amor

O Tó é bruto
Mas apenas por questões de segurança porque se o não fosse
Para alem de triste, teria consciência da sua tristeza

O Tó é frio
Mas apenas por questões de relacionamento porque se o não fosse
Para além de isolado, teria consciência do seu isolamento

Mas o Tó tem amor
Sem nenhum mas
Nem nenhum apenas
para além do apenas
amor de sussurrar ao ouvido

sábado, março 03, 2007

Ao menos orbitássemos e seria certa a esperança de sair da sombra da vida

domingo, fevereiro 18, 2007