domingo, fevereiro 28, 2010

A soma

A mesa longa cimentava o ambiente morno de respeitinho contente. Lá fora o jardim ilumina-se frugalmente e projectava pequenos pontos de luz e manchas de reflexos complexos na larga janela de correr. Um olhar complicado podia demorar-se ali. Havia uma fresta para que nada fosse definitivo. No entanto o ar fresco e talvez perfumado que por ali entrava não tinha hipótese face à soma das fragrâncias que as individualidades exalavam.
A soma de todos os sons, se interpretado como uma linguagem desconhecida, era igual a zero. No entanto a organização reservara uma surpresa. A janela abriu-se mais um pouco, sem pressas, e um vulto mais a sua guitarra entraram. Reconheci-o logo, era o Rufus Wainwright que logo ali começou a cantar e a expor-se, frágil a olhar aquela mesa compacta, fechada em círculo. Não resisti e aplaudi-o com entusiasmo. Aplaudi e sorri aquele sorriso sem pressa, o melhor de todos. Não sei quanto tempo depois apercebi-me ser o único a aplaudir, mas para além de ser o único a aplaudir, ninguém olhava escandalizado, incrédulo ou interrogativo, nem para mim, nem para o Rufus. A soma dos sons provenientes da mesa continuava a dar zero.