segunda-feira, outubro 27, 2008

ii

Sem dar por isso, sem memorizar o caminho que percorrera, sem saber como voltar atrás, o Alfredo chegou certa vez ao princípio de uma ideia. Ao princípio de uma ideia que não precisou de mais para logo ali o assustar, lhe cortar a respiração, baixar o olhar de receio, sentir frio de medo e calor de ansiedade. Seria ele capaz de a olhar de frente? Mergulhar e deixar-se invadir, resistir ao receio de se inundar e salvar-se de afogar?
O Alfredo imaginou duas coisas que se relacionam entre si. O Alfredo Imaginou duas palavras. Depois mais uma, e outra, e outra. Imaginou o dicionário completo. E todas as relações entre todas as palavras. Pareceu-lhe idiota que algo tão simples não estivesse já feito.
Colocou-se ao caminho, embarcou nessa viagem. Decidiu apelidar carinhosamente o seu novo programa de Al, como em Alfredo.
Por cada palavra que adicionava ao Al, o Alfredo tinha meia dúzia de visões a partir das quais suspeitava poder descobrir um pouco mais de si. Por vezes deixava-se perder pelos caminhos que iniciava nessas visões e por vezes nem sentia vontade de regressar. No ritmo ressonante das palavras certas descansava toda e qualquer fadiga. Sacudia os excessos inúteis, aliviava a carga, apercebia-se claramente da real escala de importância das coisas.
Por cada palavra, o Al tinha um milhão.

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